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Amores Capitalistas: Entre a Dopamina e o Amor que Permanece

“O que permanece quando a dopamina cessa, o frio na barriga passa e os vínculos líquidos da sociedade se desfazem? É aí que descobrimos se existe amor — não como emoção fugaz, mas como decisão madura de permanecer.”
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Vivemos em uma sociedade marcada pelo imediatismo. A lógica do consumo não se limita a roupas, carros ou celulares: também se estende aos relacionamentos. O filme Amores Materialistas escancara essa realidade, mostrando pessoas que se apaixonam e se desfazem umas das outras com a mesma facilidade com que descartam objetos. O que não serve mais, troca-se. O que perde a intensidade da dopamina, abandona-se.


Segundo a neurociência, fases do amor — desejo, paixão e vínculo — estão associadas a diferentes neurotransmissores. A dopamina, por exemplo, gera excitação, energia e foco no outro; mas seu efeito é instável, como uma droga que pede doses cada vez maiores. Não à toa, a paixão efusiva dura em média de 18 meses a três anos. Depois disso, o coração precisa encontrar outro fundamento: o vínculo, sustentado por oxitocina, confiança e entrega mútua.


O problema é que a sociedade materialista e consumista não suporta a fase em que o coração já não acelera tanto. As relações passam a ser vistas como "sem graça", quando, na verdade, é aí que começa o amor maduro. Trocam-se pessoas como se troca de celular — sempre em busca da novidade, incapazes de lidar com a rotina e com a beleza escondida no cotidiano.


Aqui encontramos um diálogo com o pensamento de Zygmunt Bauman, que chamou nosso tempo de “modernidade líquida”. As relações, assim como bens de consumo, se tornaram frágeis, superficiais, escorrem por entre os dedos. São vínculos líquidos: sem raízes, sem permanência. Quando o calor da paixão se vai, muitos desistem, sem descobrir que o amor verdadeiro se fortalece exatamente na travessia dos desertos.


Do ponto de vista cristão, essa lógica revela nossa dificuldade de amar como Cristo nos amou (Efésios 5:2). O amor verdadeiro não se reduz à química cerebral, ainda que a ciência revele sua complexidade. O amor que permanece vai além da dopamina — é escolha, pacto e entrega. Como disse Paulo, “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Co 13:7).


O que o filme denuncia é justamente a ausência desse amor. Vivemos cercados de paixões efêmeras e vínculos frágeis, que desmoronam diante da menor frustração. Mas é na constância, na capacidade de atravessar os invernos da relação, que floresce a primavera da verdadeira intimidade.


Em última análise, Amores Materialistas nos convida a refletir: estamos buscando o amor como recompensa dopaminérgica imediata, ou como compromisso que atravessa a rotina e a dor? A sociedade pode ser imediatista, mas o chamado do Evangelho é eterno. O amor que se enraíza em Deus não é descartável. Ele não se consome, ele se doa.


  • Bauman, Z. Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

  • Turkle, S. Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other. New York: Basic Books, 2011.

  • Levine, A., & Heller, R. Attached: The New Science of Adult Attachment and How It Can Help You Find – and Keep – Love. New York: TarcherPerigee, 2010.

 
 
 

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